terça-feira

O homem da escrivaninha

A casa está silenciosa esses últimos dias, acho que todos saíram, ou será que todos se foram? Não sei!

O velho senhor continua sentado e só. Engano meu, acho que é o jovem, que se tornou velho cedo demais. Ele está a espera de alguém.

Viver esperando alguém é entediante, ainda mais quando esse alguém não chega. No entanto eles esperam juntos, a essa altura, já não se pode discernir o jovem do velho e velho do jovem. Não que eles sejam os mesmos, mas acho que se complementam. Na dor dois se tornam um e na alegria cada um segue seu caminho.

Todos estão silenciosos esses últimos dias, acho que a casa se foi, ou será que saiu? Não sei!

Só sei que há um moço sentado a escrivaninha, debruçado sobre seus papeis, escrevendo com afinco, fazendo a caneta flutuar em suas mãos. Acho que me enganei, ele não tem papel à mesa, ele escreve em seu computador, mas está debruçado e com caneta na mão.

Ele se levanta silenciosamente, alguém bate no portão, ou seria um portal?

O desejo do jovem é falar.

O desejo do velho senhor é de ser ouvido.

Há um elo entre os abismos.

Em uma casa silenciosa.

[Este texto faz parte da série "O senhor e os pombos" para compreendê-lo melhor entre lá e leia os textos anteriores.]

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