Talvez seria um escândalo se criassem uma lei onde os alunos que tivessem estudado a vida inteira em escola particular não pudessem estudar em universidade pública, devendo sim continuar nas instituições particulares. Muitos diriam ser uma lei injusta, mas seria a concorrência entre alunos de escolas públicas e alunos de escolas privadas pelas vagas das universidades federais e estaduais uma concorrência justa?
No inicio da década de 80, quando os alunos mais ricos começaram a migrar para escolas particulares, houve uma queda na qualidade do ensino, uma queda que se estende até hoje. O fato é que o governo reduziu o investimento nas instituições educacionais do estado, sendo assim passou a oferecer um serviço de baixa qualidade. Por isso, a educação pública tornou-se vexatória, relegada as traças, enquanto a educação particular passou a ser referência no país, entretanto, somente uma pequena parte da população tinha e tem acesso a ela.
Os alunos que crescem estudando em escolas do governo aprendem muito pouco e possuem uma bagagem inferior aos alunos que estudam em escola particular, isso é latente. Enquanto o menino da escola pública está aprendendo o verbo “to be”, o garoto da escola particular já domina o inglês e o espanhol. É claro que existem algumas exceções em ambos os lados, mas no geral é uma competição injusta. Quando chega na hora do vestibular o aluno rico de escola particular, já fala no mínimo duas línguas, já tem experiência transcultural, morou fora do país, pôde fazer cursinho, isso sem contar a boa base que teve no ensino fundamental e médio. Enquanto isso o menino pobre de escola pública logo percebeu que nunca passaria em um vestibular, terminou o ensino médio e mal se lembrava do que havia visto, não tinha dinheiro para pagar um cursinho, por isso nem tentou fazer a prova.
O sistema educacional legitima um estado de pobreza, ignorância e injustiça, pois cobra da gente o que não ofereceu, faz perguntas das quais poucos foram preparados para responder. A maioria das universidades públicas (que são conceituadas como melhores) estão cheias de gente que tem grana (talvez por isso que sejam boas), já as faculdades particulares (com conceito menos elevado) estão cheias de gente que não tem grana (talvez por isso tenham esse conceito), que em sua maioria tem que trabalhar para pagar a faculdade e é quase impossível não prejudicar um dos dois (trabalho ou faculdade).
Isso serve até para graduações maiores, como mestrados e doutorados. Como alguém sem uma base solida na educação, que nem sabe falar português direito vai competir uma vaga de mestrado com um cara que fala três idiomas e já morou fora do país? São poucos que conseguem essa façanha. É igual a uma corrida de espermatozóide até um ovulo, são milhares pra um e o mais rápido ganha.
Agora, se as perguntas nos vestibulares, nas provas de mestrado e doutorado fossem sobre temas relacionados a pobreza, provavelmente um aluno da escola pública passaria sem problemas, pois teve que responder constantemente a essas perguntas. Se perguntassem como que um trabalhador consegue sustentar uma família de seis pessoas com menos de mil reais por mês, muitos olhariam para o próprio pai e teriam a resposta. Se perguntassem qual é o gosto da fome ou da escassez de comida, muitos lembrariam de fases da vida onde só tinham arroz e feijão pro mês inteiro. Se perguntassem sobre como é andar em um ônibus apertado a vida inteira, muitos contariam a experiência de tentar voltar pra casa depois do trabalho. Se perguntassem sobre como é viver marginalizado e sem perspectiva, muitos contariam os exemplos de amigos e parentes que se perderam nas drogas para silenciar essa angustia de viver sem expectativas.
Enfim, se perguntassem sobre o que realmente se ensina, talvez a história seria outra, mas infelizmente isso não conta ponto pro Enem, pra USP, pra UFRJ, UFF, UNIFESP, UFP, Unesp, entre tantas outras instituições públicas onde a maioria dos alunos são provenientes de instituições privadas.
Talvez uma pessoa que não teve uma boa educação não saiba interpretar o seu texto. Talvez o que teve uma boa educação faça uma leitura com outra visão... enfim.
ResponderExcluirConcordo muito com o que vc disse no texto. Parabens!
Pura verdade. A educação atual é uma vergonha. Pior é ver que dentro das universidades se prega "um ensino de qualidade", mas fora dela tudo não passa de "sonhos de estudantes".
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBrasil, meu Brasil brasileiro...
ResponderExcluirA crítica é valiosa, mas enquanto os "evangélicos" não fizerem a sua parte, como poderemos cobrar uma educação melhor, ou um mundo mais justo? Abraço mano
ResponderExcluirConcordo com toda a crítica que você fez no texto, a educação pública É ruim e não há duvida, e não consegue preparar as pessoas para as universidades públicas, que são concorridas demais para alguém com uma base tão fraca. Discordo que uma possível solução para isso seria criar uma lei para proibir os ricos (resumindo) de entrarem nas faculdades publicas, pois nesse cenário elas seriam compostas por apenas alunos com pouco conhecimento, pois teriam vindo todos de escola pública, e seria ainda pior que o ensino das particulares de hoje, e consequentemente estariam ao final da graduação menos preparados do que essas mesmas pessoas formadas pelas faculdades privadas dos dias de hoje, pois como você mesmo disse as faculdades públicas de hoje apenas são boas pois são compostas por pessoas com dinheiro, o que não aconteceria se fosse permitida a entrada apenas de alunos de escola pública, não acha? Com isso então dá pra entender que o problema não se encontra no nosso ordenamento jurídico, mas sim, como sempre, chegando até a parecer clichê, na política, que se beneficia de cidadãos "burros" (desculpe pela verdade) e que são muito mais facilmente controlados por qualquer meio possível que os governantes possam fazer com que informações deturpadas cheguem a eles.
ResponderExcluirVim de escola particular e estudo na Unifesp.
ResponderExcluirConcordo que a diferença na disputa por vagas é gritante e que o sistema de cotas é uma vergonha, um artifício que o governo criou pra poder dizer que se preocupa com o assunto.
Concordo com parte do texto e dos comentários.
A educação é direito de todos, mas não é garantida.
O vestibular é um processo cruel, que não seleciona nem conhecimento, nem potencialidade.
Não se pode generalizar, esse é um assunto bem mais complicado e há casos e casos.
Porém todos nós sabemos que boa parte do problema está na educação de base. Mas como não entendo tanto de política, só posso dizer que não sei o motivo pelo qual ainda não reformaram a educação no Brasil.
Assunto polêmico, bons argumentos de vários lados. A única coisa que me preocupa é que, enquanto se discute, muitos jovens perdem seus sonhos, perdem suas vidas.
Bom texto, gera discussão!
Abraço mano!
Olá!
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Boa noite, encontrei seu blog sem querer, clicando nos botoes de "próximo blog".
ResponderExcluirMuito bom seu texto. Causa duas coisas que muito me agradam. Reflexão e discussão. Coisas muito valiosas e que, nos dias de hoje, pouco são geradas com conteúdo.
Discordo quando vc diz que "se no vestibular as questões fossem sobre probreza, um aluno de escola pública passaria facilmente". Nesso ponto, me permito identificar um algo errado. Ser rico, ou ter dinheiro não significa ser "tapado" ou desconhecer a realidade. Como ser pobre, não significa ser um eterno sofredor.
Acredito que a questão da disparidade social é sim um tema que merece discussão forte; mas também acredito que se isolássemos a faculdade pública daqueles que frequentaram intituições particulares, e mantivéssemos os investimentos pífios atuais, acabaríamos, sim, prejudicando ainda mais os que frequentaram instituições públicas.
Não se trata de quem tem ou não dinheiro. Mas sim, mais uma vez ao meu modo de vista, termos investimentos sérios que proporcionem aos que não tiveram a oportunidade de frequentar boas instituições privadas - lembrando aqui que há também péssimas -, a mesma chance daqueles que assim fizeram.
É exatamente como na questão da cota. Num país mestiço como o nosso, se valer de algo assim, é pretender corrigir um erro histórico com outro igual.
Parabéns pelo seu texto!
Um abraço!
A edecação está mal educada. Realmente a escola pública está devendo muito para a sociedade que paga altos impostos e não tem o retorno que merecia. A escola pública não é de graça é muito bem paga. É lógico que o governo é culpado pela escola de má qualidade. Mas também muitos professores tambem tem a sua parcela de culpa. Muitos professores não gostam de dar aulas estão lá só por causa do dinheiro. Percebe-se isso nas greves, pois a única reivindicação é questões financeiras. Tem muitas coisas para se reivindicar. Super lotação das salas de aulas é uma delas. Equipamento estragado... Sem contar que o dinheiro a APM munca se vê. Existe o recurso mas onde ele está! Tem a questão que muitos professores não leem. Eles leram mais ou menos na faculdade depois disso nem livro didático, jornal ou coisa que o valha leem. As próprias editoaras fornecem livros de graça para os professores. Também a diferença entre professor e aluno é 15 minutos. Quinze minutos antes de começar a aula o professor prepara a aula. Que denonstra falta de responsabilidade. Sem contar que os professores não são unidos, um sempre procura puxar o tapete do outro. Enquanto houver este desrespeito a educação pelos seus próprios educadores não ahverá educação de qualidade!
ResponderExcluirA mais pura verdade foi dita aqui. Estou sentindo isso na carne, estou cursando letras e tendo que desaprender a aprender tudo novamente,estou carregando um fardo mais pesado do que as pessoas que estudadam em escola privadas, o governo brasileiro faz questão que os pobres ficam pobres dando dinheiro enquanto eles ficam atoa,ao invés de procurar dar um estudo de qualidade.
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