Confunda

Uma das diferenças, e grande diferença essa, entre as crianças e os adultos é que as crianças invariavelmente confundem realidade com fantasia, já os adultos confundem realidade com realidade, ou seja, poucos têm um pé na realidade e um pé na fantasia.

Quando se cresce, outras características são cobradas, começamos a perceber que as coisas não são realmente da maneira que nossos pais contavam. Descobrimos que o boi da cara preta não é tão medonho assim, que no escuro não existe nenhum monstro e os filhos e filhas não são trazidos pela cegonha e sim por um complexo processo biológico. Todos esses fatores e outros do dia-a-dia corroboram para que nosso mundo fique cada vez mais real e menos fantasioso, mais lógico e menos místico, mais racional e menos sobrenatural.

Quando somos crianças, o natal é vivido com intensa emoção, paixão e alegria. As deliciosas comidas parecem divinos manjares que derretem ao entrar em nossas bocas e que embelezam os olhos quando estão postos à mesa. A viagem tradicional para a casa do vovô e da vovó é aguardada com imensa expectativa e ansiedade. Cada enfeite posto na árvore é feito com muito carinho e fantasia. Cada pedido de presente ao papai e mamãe é um puro desejo do coração, E os dez segundos que antecedem o natal são mais emocionantes que uma cobrança de pênalti na final da copa do mundo.

Quando nos tornamos adultos, o natal passa a ser um feriado merecido ou um encontro familiar, mas sem muita profundidade, onde apenas é reunida a família e as comidas se tornam diferentes. Quando somos adultos, natal é sinônimo de gasto, presente sinônimo de despesa, viagem com as crianças sinônimo de rombo no orçamento. Tiramos o natal do mundo fantasioso e o importamos para a realidade, ele não suporta tal ambiente e morre perdendo o seu sentido.

Por essa razão, nós adultos devemos recuperar a outra metade da nossa alma. Devemos sim confundir o Papai do Céu com o Papai Noel, a manjedoura com o trenó o capim com os ramos da árvore de natal. Afinal de contas, o nascimento do mestre é um ensino de simplicidade e humildade, no entanto é o momento onde somos presenteados de maneira surreal em uma noite mágica, encantada e alegre, com a maior dádiva que poderíamos receber: Jesus, o Deus que se fez carne.