A recaída do poeta*

Todo bom poeta é sublime em suas poesias e canções. Em muitos casos, muitas delas trazem verdades inexoráveis para a nossa vida como a linda canção entoada por todos os crentes que diz:

“Sim, eu amo a mensagem da cruz, ‘té morrer, eu a vou proclamar.
Levarei, eu também minha cruz, ‘té por uma coroa trocar.”

Eis esse lindo hino que é cantado por diversas igrejas há mais de um século. Interessante é que o poeta desconhecido que escreveu esta bela canção, não só se propôs a fazer um belo hino a ser cantado, mas também um belo texto teológico. Ele partilhou a mesma mensagem dada por Jesus que disse para levarmos a nossa cruz.
De fato, a cruz é o tema central das escrituras. Ela representa nossa salvação, nosso resgate, o sacrifício do nosso mestre, a abnegação em nome do amor, a união de um novo povo em Cristo, entre outros valiosos símbolos. Quando Cristo nos convida a levar cada um a sua cruz, ele nos convida a levar não um objeto de madeira, mas sim seu grande significado de entrega, renúncia, sacrifício por amor ao nosso próximo, vergonha, humilhação, dependência. Ao mesmo tempo que a cruz é um sinal glorioso de salvação e de alegria, ela é também um sinal de luto, de dor, de choro, de maldição.

Se observarmos a letra da música que cantamos, notaremos que apesar do poeta reconhecer todo esse valor da cruz, ele deseja trocá-la. Trocá-la por uma coroa. Eis aí a recaída do poeta. Uma coroa é mais leve, é mais gloriosa, é mais digna, é mais querida. Não precisa renegar nada, nem se sacrificar. É mais cômoda e bonita.

Mas talvez você me indague: “Mas ele está se referindo a coroa da vida que receberemos na eternidade.”

Eu creio que por mais que recebamos todas as coroas existentes no céu, nada será mais glorioso do que a cruz. Acredito que quando Cristo disse “carregue a sua cruz”, Ele se referia a um carregar eterno, pois carregar a cruz é partilhar com Cristo o amor altruísta. Carregar a cruz é deixar que Ele seja o senhor, é obedecer, é reconhecer o verdadeiro Senhor, é sempre estar na dependência daquele que primeiro carregou a nossa cruz.

A cruz é um sinal eterno de rendição ao mestre, ao verdadeiro rei. Diante da cruz, a única coroa suportável é a de espinhos, pois diante do rei coroado em glória, a única oferta agradável é a cruz.


* Texto extraído de uma pregação do Pr. Carlos Queiroz