O GRANDE VOADOR

Foi para a sua primeira prova, um desafio e tanto, queria bater o recorde mundial de maior distância no período de uma hora. A missão parecia impossível, pois a marca atual não era derrubada há cinco anos, mesmo com várias tentativas de ciclistas profissionais.

Após todas as aferições começou a prova. Colocou toda garra e força em seus pés, dizia para si mesmo: “Pra se bater o recorde necessário é pedalar mais rápido”. Todos estavam apreensivos, parecia que conseguiria, mas tragicamente nos últimos minutos da prova, em um ato inexplicável, perde o controle da bicicleta e vai ao chão. Uma queda grave, dolorida, mas sem dúvida a pior dor que sentiu foi a dor do fracasso.

Meses depois da tentativa, aquele que era chamado de “o grande voador”, tornou-se um entregador de cartas em sua pequena cidade. Todos sabiam que ele tinha um potencial enorme e que aquele trabalho era uma prisão retendo tamanho talento. O incentivo dos amigos e familiares não foi mais forte que a depressão que abateu o atleta, se prendia em uma avalanche de sentimentos e emoções provenientes daquele fracasso.

Olhando por dentro da alma, poderia se perceber que aquele homem carregava marcas durante o longo da sua vida, isso lhe pesava as costas e tornava a viagem mais cansativa. Sinceramente, o tombo na pista não foi fruto de um percalço qualquer e sim por uma alma ferida e mal tratada.

Um velho padre, percebendo a tristeza no olhar daquele a quem chamavam “o grande voador”, se aproximou. De forma sábia e milagrosa, através de longos diálogos, chás, cafés e encontros, conseguiu fazer com que o próprio moço saísse daquela prisão deprimente de tristeza e amargura. E o que se viu era o que todos já sabiam. Ele estava de volta e sem demora voltou para a pista onde tempos atrás caíra, voltou para bater o recorde. E o bateu.

“Para se bater o recorde necessário é pedalar mais rápido e andar mais leve”

Esse era o pensamento fixo na cabeça daquele que chamavam de “o grande voador” e agora estava tão leve e livre que não apenas corria como também voava!

[texto com base no filme: “O voador escocês”]