O cristianismo recebeu forte
influência do platonismo, esse período remonta os primeiros séculos da história
da igreja cristã, quando alguns líderes uniram teologia e filosofia
(platônica).
Uma das teses de Platão era a de
que a matéria é má, em detrimento do espírito que é bom. Por essa razão, a vida
ideal era aquela que se afastava cada vez mais dos prazeres da matéria (carne),
apegando-se apenas aquilo que não era materializado (alma).
Para Platão, a alma era boa e o
corpo mal. Ele afirmava que “o corpo era o cárcere da alma”, sendo assim a alma
precisava se libertar do corpo (matéria corrompida) e voltar para o Mundo das
Idéias (ou sentidos).
No desenvolver da história da
igreja, essa doutrina, fomentou a rejeição por tudo que é material, trazendo
para algumas comunidades a prática do ascetismo, ou seja, a rejeição de
qualquer prazer corporal para o fortalecimento da alma.
Com o passar dos anos, essa forma
de pensar firmou em muitas igrejas a idéia de que tudo que dá prazer é pecado e
que a preocupação do cristão deve ser apenas com coisas espirituais. Um exemplo
clássico é a nossa dificuldade de lidar com o sexo, muitas vezes esse assunto
nem é citado nas igrejas, por estar sempre relacionado com pecado/prazer.
Outra influência dessa filosofia
(platonismo) na teologia, foi reduzir a missão da igreja à apenas o anúncio da
palavra (evangelização), levando em conta apenas a alma do indivíduo e não a
sua realidade local.
Em Julho de 1974, em Laussane, Billy
Graham reuniu mais de 2.300 líderes evangélicos de diferentes países para um
grande congresso de evangelização mundial. A pauta era discutir sobre
estratégias de evangelização para o mundo. Estavam nessa reunião alguns líderes
evangélicos da América Latina, que ousadamente apresentaram uma segunda pauta
para a discussão, propondo estratégias de evangelização para países pobres.
A crise dos evangelistas latino
americanos era que nos países mais pobres evangelização não podia ser
desassociada da ação social, visto que as pessoas além de necessitarem do Pão
da Vida, precisavam também do pão diário.
Para esses, evangelização não era apenas tirar o homem do inferno, mas
também tirar o inferno do homem.
Esse congresso tornou-se conhecido
por ser um referencial para aquilo que irá se chamar de Missão Integral, que é
a tentativa de olhar para o homem como um ser integral e não apenas como um
espírito preso em um corpo. Olhar o homem além da dicotomia alma/corpo, olhar
para o mundo como criação de Deus, e por assim ser, uma boa criação, todavia
manchada pelo pecado e por essa razão necessitada da transformação de Deus e do
estabelecimento do seu reino que é um reino de Justiça, Amor e Bondade.
Diante dessa visão, os cristãos
não são chamados apenas para cuidar do que é espiritual (alma), mas também
cuidar do que é humano. Ser cristão é ser agente efetivo e atuante da realidade
do Reino de Deus e através do poder da ressurreição transformar a injustiça em
justiça, a miséria em vida, sinalizando aqui na terra o reino do nosso Rei.
Evangelização, sob esse prisma
não está mais desassociada da ação social, assim como a fé não está
desassociada das obras. O que se tem é obra de fé e fé nas obras.
“De que adianta, meus caros irmãos, alguém proclamar sua fé, se não tem
obras? Acaso essa fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem
necessitados de roupa e passando privação do alimento de cada dia, e qualquer
dentre vós lhe disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e comei até satisfazer-vos’,
porém sem lhe dar alguma ajuda concreta, de que adianta isso?” Tiago
2.14-16
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