“E ao homem disse: Porquanto deste ouvidos à
voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei dizendo: Não comerás
dela; maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da
tua vida.
Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e comerás das ervas do campo.
Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás.” Gn 3:17-19
Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e comerás das ervas do campo.
Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás.” Gn 3:17-19
O
pecado subverte a lógica da relação humana e da relação do ecossistema.
Passa-se de uma relação de harmonia e cuidado mutuo, para uma relação de
domínio e posse. O homem possuí e domina a mulher e passa a viver em constante
guerra contra a terra. Ele tentará plantar, mas a terra lhe resistirá e trará
cansaço ao homem.
A
lógica de domínio e posse não valoriza a vida, pelo contrário, faz dela um
objeto. Perde-se a unidade e consciência de extensão e passa-se a ver o próximo
como o outro, como um concorrente, como alguém que precisa ser dominado.
Aflora-se então o sentido de salvação pessoal em meio ao caos.
O
fato da terra ser amaldiçoada por conta do pecado, piora ainda mais a situação,
pois estabelece um contexto de vivência nada fácil, onde o alimento não seria
conseguido com a mesma facilidade no jardim. Logo, deflagra uma possibilidade
de falta, de escassez, de dificuldade para se obter o elemento vital. Em
situações assim, sobretudo em um ambiente pautado pela relação de domínio e
posse, há uma sobreposição do egoísmo em detrimento do altruísmo. Logo, se
falta alimento a prioridade é minha e não do “outro”.
Nessa
relação o trabalho ganha uma outra conotação, não mais como meio para preservar
a vida e a existência, mas como ferramenta de domínio e posse. Trabalha-se para
ter o próprio alimento, para possuir um certo tipo de riqueza que venha a dar
vantagem sobre o outro e assim, gerar um certo tipo de domínio. Se antes o
trabalho tinha um aspecto comunitário, no pós queda, torna-se mais tendencioso
ao aspecto individual.
O
trabalho também vira sinônimo de fadiga e tarefa penosa, cuja finalidade é
obter o sustento e nada mais. Perde-se qualquer perspectiva de sentido maior no
trabalho e ele se transforma em um labor penoso para se conseguir o sustento.
Assim, vive-se para trabalhar, trabalha-se para comer e come-se para viver.
Diminuí o horizonte de transformação por parte do trabalho, foca-se apenas no
sustento individual e diário, ou seja em seu caráter finito e rotineiro.
Eis
o princípio das desigualdades: uma humanidade que se relaciona a partir do
domínio e posse; um ambiente de escassez, dificuldade e labor para se produzir
e uma vivencia onde o trabalho se reduz a um meio para se ter algo para si ou
para os seus apenas.
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