quinta-feira

DISCERNINDO OS TEMPO E A AÇÃO DE DEUS NO TEMPO

Jesus viveu discernindo os tempos e a ação de Deus no tempo. O apóstolo João nos ajuda a perceber essa sensibilidade do Cristo, quando decide registrar em seu livro uma informação que a princípio parecesse não disser muita coisa: “Era preciso passar pela Samaria” (Jo 4.4).


Jesus estava deixando a Judéia e retornando à Galiléia. Entre esses dois territórios, estava Samaria, terra dos samaritanos que por tempos, mantinham uma relação conflituosa com os judeus e vice e versa. Entre o ponto onde Jesus estava e o seu destino final, o trajeto mais reto era passar por Samaria, porém não era a única opção e devido ao ódio judeu ao povo samaritano, passar por Samaria seria a última opção, por se apresentar também como um caminho perigoso aos judeus (ver Lc. 9.51-56 onde Jesus é proibido de passar por Samaria para ir até Jerusalém).


A fala de João evidência mais que uma necessidade de percurso geográfico. Como afirma D. L. Moody em seu comentário sobre a passagem: “Em João, essa palavra costuma apontar uma necessidade divina, e pode ser o caso aqui, indicando a necessidade de lidar com os samaritanos, abrindo-lhes as portas da vida.”


Mas que necessidade divina seria essa que incluiu a cidade de Samaria na rota do Cristo¿


O profeta Amós nos ajuda a compreender essa necessidade divina de passar por Samaria. Amós é um profeta levantado por Deus para pregar ao reino do Norte, que tinha por capital a cidade de Samaria. O reino do norte foi conhecido como um reino perverso, conduzido por reis e líderes religiosos que rejeitaram a Deus e sua lei. Um povo que rejeitava a admoestação do próprio Deus através dos profetas, como diz Amós: “Mas vós ordenastes aos profetas: Não profetizem!” (Am 2.12).


Por essa razão, o juízo e condenação ao reino do norte é um dos mais duros juízos entregue pelos profetas: “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que enviarei fome à terra, não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a palavra do Senhor. Cambalearão de um mar a outro mar, errarão do norte até o levante à procura da palavra do Senhor, mas não a encontrarão!” (Am 8.11-12).


O povo do reino do norte seria assolado por “Fome e Sede”, porém a fome não seria de comida e a sede de bebida, mas sim fome e sede da palavra de Deus. Não se ouviria mais a voz de Deus através dos profetas nas terras do reino do norte. Deus não levantaria mais profetas entre àqueles que optaram por “calar os profetas” enviados por Deus.


A profecia de Amós se cumpre após a queda do reino do Norte, pelo império Assírio. As terras são tomadas, as tribos dispersas e o povo levado para o cativeiro, quem ficou passou a conviver com estrangeiros o que propiciou uma mistura de raças nessa região (um dos motivos do preconceito do judeu para com o samaritano). 


Durante esse tempo não há registro de profetas enviados para falar ao reino do Norte ou ao que havia sobrado dele. É um povo que de certa forma some da narrativa bíblica e reaparece nos tempos de Jesus, concentrado na cidade de Samaria, antiga capital do Reino do Norte.


No diálogo de Jesus com a mulher samaritana é possível perceber que o povo samaritano ainda conservava a prática do culto, a esperança messiânica, a imagem e respeito pelos patriarcas, o zelo litúrgico e apego ao local de adoração, enfim, havia uma expressão de devoção a Deus entre os samaritanos, ou parte deles. Porém não temos registro bíblico de profetas pregando para esse povo. 


Após os 400 anos do período chamado “inter-bíblico”, conhecido também como “o silêncio de Deus”, temos o registro do profeta João Batista pregando para os judeus, remanescentes do reino do sul. Diferentemente do Antigo Testamento, onde profetas eram levantados para falar para os dois reinos, no Novo Testamente, João, que encerra o movimento profético do AT e inaugura um novo momento, foi levantado para pregar aos judeus e ponto, seu ministério se concentra para os judeus.


Todavia, João nos revela que “era necessário ao Cristo passar por Samaria!”


A profecia de Amós dizia que haveria “fome e sede” da palavra. Essa palavra se cumpre e o povo passa séculos sem uma voz profética levantada por Deus, até o momento de Jesus passar por Samaria.


Lá, o mestre encontra uma mulher junto à fonte. Uma mulher sedenta e um povo sedento que por anos não ouviam mais a voz do altíssimo pelos seus profetas, porém acalentavam uma esperança messiânica. Havia fome e sede da palavra, porém Jesus anuncia que estava ali a “água da vida” e quem dele bebesse “jamais voltaria a ter sede, antes seria uma fonte jorrando para a vida eterna”. 


Era preciso que Jesus passasse em Samaria para avisar àquela gente que o tempo da profecia de Amós havia se cumprido. O tempo de silêncio do Eterno havia se encerrado. Deus estava enviando aos samaritanos o maior dos profetas, o seu próprio filho.


Por ali, Jesus ficou por mais dois dias, saciando a fome e sede de muita gente. Fome e sede da palavra de Deus que agora estava novamente à disposição do povo. 


Jesus discerniu o tempo e o que Deus nele estava fazendo.

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