sábado

A alma amargurada

O jovem consegue olhar através dos olhos do velho senhor. O que será que ele vê?
Mesmo estando na avenida movimentada, barulhenta, muito iluminada, o jovem consegue, entre o intervalo de um carro e outro, entre a pausa do imenso barulho, observar a alma do velho senhor. O que será que ele vê?
Talvez seria melhor nunca ter visto, ou ter podido enxergar tão longe, pois o medo não é do que se viu, mas o medo é de que o que foi visto seja um reflexo da própria alma do jovem.

Apesar da boa postura do senhor e da bela praça em sua volta, a visão do jovem continua sendo escura, triste e solitária, talvez seja um esboço da alma do próprio senhor ou do próprio jovem.
Ele consegue ver uma culpa que sonda todo o pensamento, como se esse homem tivesse falhado com alguém e não tivesse havido tempo para consertar. Atrás da culpa, o jovem vê o remorso de atitudes que não foram tomadas ou até de atitudes que foram tomadas, mas que não eram as melhores.

Atrás do olhar do velho homem, há um descontentamento. Não importa o que ele ganhe, ou o que ele adquira, parece sempre que sua alma será amargurada. Há também um vazio e uma saudade. O vazio por parte daqueles que faltam. A saudade por parte daqueles que foram e não voltam mais.
Enfim. Há tanta coisa pra se ver, mas pouca coragem para se olhar. Há tanta coisa pra se concertar, mas pouca iniciativa.

O desejo do jovem é curar as feridas.
O desejo do senhor é ser curado.
Há uma alma amargurada.
Há um reflexo no espelho da alma.

[Esta é a continuação do conto: "O senhor e os pombos" e "Antagonismo". Para compreende-la melhor, leia esses dois textos]

3 comentários:

  1. Ae Calebe mando beem!!

    Ponto de Vista atualizado..da um pulo lá, www.gutopagiossi.blogspot.com


    **Há tanta coisa pra se concertar ou consertar, mas pouca iniciativa.

    Abraço!!

    ResponderExcluir
  2. Gostei do texto!

    Adicionando: Atrás do olhar de cada um de nós, existem coisas a ser mudadas, pena que nem sempre queremos a mudança...

    ResponderExcluir