quinta-feira

Meu Natal é “Senzaliano”

Nas casas grandes desse Brasil, temos mesas fartas, cheias de frutas e delícias, um grande peru de natal ao lado de um tender suculento e champanhes finíssimos.

Nas senzalas desse Brasil, temos muita alegria e samba. Uma mesa com vários alimentos simples, mas gostosos, nada tão caro ou chique, mas feito com muito empenho, a mistura das misturas das famílias que se reúnem.

Nas casas grandes, tem pessoas bem vestidas, com roupas novas, caras e chiques. Tem amigo secreto, árvores bem enfeitadas, coloridas e muitos presentes aos seus pés.

Nas senzalas, tem pessoas que não ligam muito pra o que estão vestindo. Alguns de chinelos, outros mais arrumadinhos, não importa, é dia de festa. Tem inimigo secreto, um querendo avacalhar o presente do outro, tem um pedaço de pinheiro colocado numa caixa cheia de areia e alguns enfeites contrastando com o verde da árvore.

Nas casas grandes tem formalidade. São muitos talheres, conversa baixa ao som do clássico “Aleluia” composto por Handel e parentes enchem a sala. Muitos nem se conhecem ou nem se falam, mas cumprem a formalidade.

Nas senzalas é tudo informal, alguns levam a sobremesa, outros levam o salgado e tem uns que não levam nada, mais são aceitos mesmo assim. Ali todo mundo fala junto, fala alto, parece até que brigam, mas depois caem na gargalhada ao som do clássico “Então é Natal” de Simone.

Na casa grande todos se cumprimentam a meia noite do dia 24, estoura um champanhe, todos vão ao deck ver a queima de fogos, abrem-se os presentes, agradecem o alimento e comem.

Nas senzalas a meia noite o povo já ta pra lá de “Bagdá”, todo mundo se abraça, se pega, se beija. É “eu te amo” pra cá e pra lá, começa a queima de fogos e todos sobem na laje pra ver. Agradecem ao alimento e aí começa o samba, o cavaco chora, a cuíca geme, o pandeiro requebra e a mulata encanta com sua dança.

Entre as riquezas das grandes casas, vejo um natal frio e burocratizado.

Entre a pobreza das senzalas vejo espontaneidade e afeto.

Me descubro parte dela, meu Natal é culturalmente “senzaliano”. Isso me deixa alegre, pois lembro que o menino nasce não na Casa Grande e sim na Senzala. Isso não exclui o fato dele também estar lá, mas deixa bem claro onde é que ele realmente mora.

3 comentários:

  1. O meu tbm é senzaliano!! E eu amo isso!!!
    Calebe, mais uma vez seu texto arrasando!!!
    Parabéns e claro, Um Feliz Natal e mto Samba no pé!!!

    beeijos.

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  2. Senzaliano GRAÇAS A DEUS!
    Nada melhor do que a falta de formalidade.. Os amigos queridos, os familiares mais próximos, enfim, as pessoas com as quais a gente se sente realmente bem.. Isso não tem preço..
    Texto ótimo Calebe..
    Ah, foi muito bom ver você aqui..
    Beijo

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  3. Ah o meu tb é Senzaliano, graças a Deus!
    Nada melhor do que a família reunida!
    ótimo texto Calebe!
    Deus abençõe!

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