segunda-feira

FOME

A fome apertou
O sujeito levantou
Procurou alimento e achando-o saciou-se
Mas tempos depois a fome apertou
O alimento antes achado acabou
Por não tê-lo pronto o sujeito plantou
A plantação cresceu e a sua fome matou
Mas depois de um tempo a fome matou o solo
Não se dava mais para plantar
Então a fome apertou
O sujeito mudou
Mudou de lugar para matar a fome
Foi para um lugar que ouviu dizer ter muita comida
Ali chegou para matar a sua fome
Na verdade
Ali chegaram para matar a sua fome
Chegaram aqueles que a fome quase matou
O sujeito não era o único que passava fome
Junto com ele havia milhares de famintos
Que, mudando de local foram para onde não há fome
Mas em uma terra de famintos
Não passar fome custa caro
E mesmo a comida sendo da terra e a terra sendo de todos
Alguns se apropriaram da terra e de sua comida
A fome apertou
O sujeito trabalhou
Trabalhou para comer
E comendo se saciou
E saciando se vendeu
Vendeu-se por um prato cheio
Então qual o valor do sujeito?
O valor do sujeito é o preço do prato
O preço da fome
 A fome apertou
O sujeitou sujeitou-se a outros trabalhos
Sujeitou-se, pois tinha mais bocas para alimentar
A fome que antes era uma, agora eram várias
A fome envelheceu o homem
A fome lhe roubou as forças
A fome lhe roubou os sonhos
A fome lhe roubou a vida
A fome apertou
O sujeito morreu
Morreu porque a fome o matou
Morreu de fome
Antes que comessem sua carne
Enterram-no abaixo da terra
Terra que produz alimento para a fome de todos matar
Mas que mesmo assim não mata a fome de todos
Antes, devoram aqueles que morrem nas mãos da fome
Então quem matou o sujeito
A fome, a terra ou a falta?

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