segunda-feira

QUE COISA NÉ?


Já não vejo alguém, vejo coisa. Me vejo como coisa
Me coisifiquei, bonito verbo tornou-se entre nós:
Eu coiso
Tu coisas
Ele coisa
Nós coisamos
Vós Coisais
Eles Coisam
E todos viram coisas

Que seja rápido para o meu prazer, sem compromisso, assim não me apego nem você.
Não que seja egoísmo, mas é apenas proteção. Coisificar-me é a proteção contra a tristeza.
Assim eu te uso e tu me usas, nos usamos sempre que quisermos.
Mas não jure nada. Pra sempre é muito tempo e nunca é muita coisa.

Não se preocupe, não vou me perder. Já me perdi no momento em que me coisifiquei.
Pra onde vou não sei, estou indo e se quiser me use desde que eu possa te usar também. Vamos compartilhar o nosso uso, tem que ser público, não seja egoísta, deixe-me te usar também.
Quando precisar me ligue, mas quando não precisar me esqueça, na mesma intensidade em que me procurou.
Faço o mesmo sempre que preciso.

E se um dia eu me enxergar coisado? Vou sofrer? Vou chorar?
Esqueci. Coisa não enxerga, não sofre, não chora e não se percebe. Coisa é coisa e ponto final.
Ufa, que coisa né?

3 comentários:

  1. Descobri uma coisa boa sobre as coisas... Coisas não tem problemas, porque problema é exclusivo de "pensantes", e como coisa não pensa. :]

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  2. Puts... mandou mto bem!!

    "Um dos assuntos essenciais em toda a literatura não superficial é o da coisificação do homem, que alcança a sua perversidade máxima na exploração de uma classe social por outra, uma exploração que é superável pelo fato de que o homem possui uma capacidade revolucionária tanto para mudar a realidade como para transformar-se a ele mesmo.

    (“José Saramago: ‘Hay que construir una iberidad cultural común”, Diario de Córdoba, Córdoba, 27 de Outubro de 1994)

    Esse é o processo clássico e bem definido das civilizações desde a antiguidade, com seu ápice na geração pós moderna!

    Devemos motivar o não conformismo com a coisificação de homens e mulheres para mudarmos a nossa realidade e transformarmos nossos paradigmas (moldados) que destroem o "para que viemos" e o "que somos".

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  3. Preto, arrasou. De uma profundidade tamanha, sem ser chato. De uma simplicidade tremenda sem ser superficial. Bem a calhar quando a gente quer falar desse mundo de sentimentos fugazes, tanto quanto limitados. Que não conhece o amor e a dedicação ao outro.
    Abandonemos a praga da coisificação e sejamos mais humanos, então!
    Parabéns, continue escrevendo!

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